Dias atrás, a então advogada sênior da equipe de Trump, Sidney Powell, fez uma declaração bombástica de que haveria um escândalos, segundo ela, de proporções bíblicas que estaria a caminho nos próximos dias. De acordo com a narrativa proferida por Powell, estaríamos presenciando os efeitos um conluio internacional envolvendo o software venezuelano Dominion e o governo chinês e de outros países inimigos da América. Ela inclusive chegou a dizer que existiriam políticos – democratas e republicanos – eleitos hoje através de fraudes eleitorais, que por isso beneficiariam esses países responsáveis por suas eleições. Powell chegou até a elencar o governador republicano da Georgia, Brian Kempf, como partícipe deste conluiu e denunciou a falta de esforço dele em auditar os resultados eleitorais do seu estado como prova de que estava acomunado com a fraude.
Não é preciso ser nenhum gênio para perceber que isso tudo é ruim demais para ser verdade. Caso o que Powell esteja dizendo tenho um pingo de verdade, trata-se do maior escândalo da história política dos EUA. Algo completamente sem antecedentes na história e que com certeza abalaria as bases da democracia americana. Sendo assim, quando se trata de uma acusação tão grave, faz-se necessário que ela seja lastreada com provas incontestáveis, não apenas com indícios. E é esse o principal problema até o momento.
Se alguém te afirmasse que o Papa é um extraterrestre e apontasse uma série de indícios que fortalecessem sua teoria, você certamente taxaria essa pessoa como louca e irresponsável por brincar com algo tão sério. De igual modo, no caso das acusações de Powell, é preciso que ela apresente provas cabais e irrefutáveis, do contrário, além de não obter o resultado almejado, apenas prejudicará a confiança das pessoas na democracia americana. E infelizmente, creio que esse processo já deu sinais de que irá ocorrer.
Após as acusações de Powell contra o governador republicano da Geórgia por este não se comprometer com uma auditoria eleitoral, muitos eleitores trumpistas compraram a narrativa de Powell e agora estão ameaçando não votarem mais nas eleições de segundo turno que acontecerão em janeiro e que podem definir o futuro do Senado. Por isso, quanto mais esse imbróglio continuar assim, há a chance de crescer a desconfiança dos republicanos não só com o processo eleitoral mas também com seus representantes republicanos que não compraram a narrativa da fraude, fazendo assim nascer uma cisão interna no partido que pode dividir os republicanos e assim beneficiar os democratas nos próximos pleitos.
No entanto, algumas peças vem se mexendo que apontam para uma reviravolta nessa história. Nessa quarta-feira , o presidente Donald Trump perdoou Michael Flynn, seu primeiro conselheiro de segurança nacional, que se confessou culpado há 3 anos por mentir para agentes do FBI. É importante frisar que a advogada de Flynn é justamente Sidney Powell.
Flynn admitiu ter feito falsas declarações para agentes do FBI sobre a natureza de suas conversas com o embaixador da Rússia nos Estados Unidos e ele tem sido o principal alvo daqueles que apontam de que haveria um conluio entre EUA e Rússia nas eleições de 2016. Contudo, mesmo depois de anos de investigações, absolutamente nada ficou provado nesse caso. À época, a narrativa para a vitória de Donald Trump era a interferência Russa nas eleições. Hoje, a tese mais forte é que quem, de fato, estava com uma tentativa de interferência nas eleições, juntamente com a Rússia, era a candidata democrata Hillary Clinton.
O perdão de Trump a Flynn pode acarretar grandes consequências para a política americana. Flynn trabalhou dentro da administração Obama e agora que Trump o perdoou este pode vir a contar tudo o que viu e sabe, inclusive revelar possíveis provas apontando a veracidade da teoria dita por Sidney Powell acerca dos ataques cibernéticos de países estrangeiros influenciando nas eleições americanas. Por isso, é bem possível que, independente de Trump não conseguir provar que houve fraude a tempo para conseguir se manter na Casa Branca, tudo indica que ele pode ter liberado um monstro que pode assombrar os democratas nos próximos anos.
Quem pariu Zé que o embale
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